terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Um Estranho em Goa (excerto)




Agualusa, José Eduardo


«Estou alojado num casarão antigo, decrépito, cujas paredes, de um amarelo prodigioso, dir-se-iam perpetuamente iluminadas pelo furor do crepúsculo. Chama-se Grande Hotel do Oriente. Apenas o nome, gravado numa larga placa de madeira sobre a fachada em ruínas, guarda ainda o brilho do passado irrecuperável. Há por aqui em Goa, muita gente como este hotel. Os últimos descendentes da velha aristocracia católica ostentam nomes igualmente improváveis, tão portugueses que em Portugal existem mais, e fazem-no com o orgulho melancólico de quem tudo teve e tudo viu ruir e desaparecer. O povo, no entanto, usa-os sem entendimento, corrompe-os alegremente. (...)»